Excelentíssima Sra. Ministra da Saúde Dra. Marta Temido,
Excelentíssima Sra. Diretora-Geral da Saúde Dra. Graça
Freitas,
É pela segunda vez que, durante o período pandémico que
atravessamos, dirijo as minhas palavras a vossas excelências.
O ano de 2020 terminou há praticamente 15 dias. Um ano tão
desafiante para todos nós e, acredito, em especial para vós que “comandam as
tropas”. O ano de 2021 estava à porta e com ele trazia a imensurável esperança
da tão desejada vacina de combate a COVID 19.
A partir deste momento colocaram em marcha um auspicioso – e
a meu ver completo e exemplar – Plano de Vacinação. Chegou a hora de tomar
decisões: quais os grupos prioritários? No meu ponto de vista, as escolhas
foram acertadas. Num primeiro momento, de forma corajosa e pioneira, foram os
profissionais de saúde, desde médicos, enfermeiros, assistentes operacionais,
entre muitos outros que compõem o ambiente hospitalar, os contemplados com as
primeiras doses da vacina. A decisão tomada faz todo o sentido, pois são estas
pessoas que mais expostas estão ao vírus.
De seguida, focaram-se nas Instituições Particulares de
Solidariedade Social – IPSS, pois é neste contexto que a COVID 19 produz um
efeito mais devastador. É precisamente nesta fase em que nos encontramos, à
data que redijo esta carta.
De forma, quanto a mim, surpreendente, são colocados à margem
os funcionários e utentes de todas as respostas sociais, há exceção das Estruturas
Residencial Para Idosos – ERPI. Exclusivamente, os profissionais e utentes das
ERPI serão vacinados neste primeiro momento! Quais os critérios que concorrem
para esta decisão!? Foram ao terreno conhecer a realidade!?
Os utentes das Estruturas Residenciais estão há meses
inseridos numa espécie de “bolha” da qual não saem para o exterior nem recebem
visitas. Só se deslocam para fora da instituição em situações devidamente
fundamentadas, como episódios de urgência e consultas médicas. Mesmo nessas
situações, os utentes ficam em isolamento 14 dias, a fim de prevenir um
possível contágio.
Por sua vez, os utentes de Centro de Dia e Apoio
Domiciliário, são pessoas, que ainda permanecem – de certa forma – inseridos
nas suas comunidades, tendo liberdade para ir ao supermercado, para tomar um
café ou simplesmente estar com as respetivas famílias. Mesmo os funcionários
que exercem funções neste tipo de respostas sociais, como é o Serviço de Apoio
Domiciliário, deslocam-se diariamente a dezenas de domicílios espalhados por
diversas localidades.
A mensagem que quero transmitir é que, também os utentes das
respostas sociais acima referenciadas, bem como os seus funcionários deverão
ter os mesmos direitos, uma vez que falamos de uma faixa etária de risco e com
profissionais expostos a possíveis contaminações.
Esta decisão de escolher, num primeiro momento, uma resposta
social em detrimento de outras, assume-se como uma medida profundamente errónea
e reveladora do desconhecimento da funcionalidade das respostas sociais que não
são – até então – contempladas com a toma da supracitada vacina.
Assim, solicito a vossas excelências que reflitam acerca do
assunto explanado nestas linhas, colocando as restantes respostas sociais no
mesmo patamar no que concerne ao combate contra a COVID 19.
Nelas, 17 de janeiro de 2021
Dr. Marcelo Costa
Psicólogo Clínico | Diretor Técnico de IPSS | Presidente da RSDHEAS Portugal
marcelocosta10@live.com.pt

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